Numa decisão entre duas propostas de trabalho, a intuição do profissional pode ser muito mais importante do que o conhecimento de fatos concretos, como possibilidades de aprendizado e crescimento, situação da companhia em relação aos concorrentes e perspectiva salarial. Além de ajudar a escolher um bom emprego, essa habilidade é também um fator diferencial num mercado em que a qualificação técnica é cada vez mais comum.

Essas tendências são comprovadas por uma pesquisa da equipe do professor John Mihalasky do New Jersey Institute of Tecnology de Newark, EUA, publicada no suplemento "Careers" do Wall Street Journal. De acordo com o estudo, a tomada de grandes decisões está estritamente ligada à habilidade intuitiva do profissional.

Em um dos experimentos, foram analisados 25 executivos cujos cargos exigem grandes tomadas de decisão - todos de companhias com faturamento inferior a US$ 50 milhões em vendas, onde as principais escolhas não são feitas por comitês. O resultado foi que 12 deles tinham dobrado o faturamento de suas empresas em 5 anos, e a característica em comum eram as elevadas pontuações nos testes de intuição.

"Na hora de fazer uma opção entre duas propostas de emprego é preciso analisar os prós e os contras de cada uma; como possibilidade de carreira internacional, oportunidades de aperfeiçoamento e crescimento - vertical ou horizontal - , e a situação das firmas no mercado", comenta o consultor de recursos humanos Pedro Morbach. "Porém há fatores que não podem ser avaliados racionalmente. Hoje, por exemplo, não dá para saber o que vai acontecer com as empresas em meio a tantos processos de fusão e a movimentos da economia. Aí a intuição é importante", afirma.

Segundo ele, essa avaliação deve começar logo na entrevista de emprego, com uma boa observação do ambiente da empresa. "Para sentir o clima, ver o moral da tropa", diz. De acordo com Morbach, a qualidade do atendimento dos funcionários, a aparência do lugar e o comportamento das pessoas são fatores que contam favoravelmente ou não, e oferecem uma perspectiva do tipo de gestão adotada - autoritária ou mais democrática com ênfase na cobrança de resultados. "Não sei se é o subconsciente, mas temos uma 'voz interna' que avalia esses aspectos e nunca erra", opina.

De acordo com o professor Ari Rehfeld, psicoterapeuta e supervisor da clínica de psicologia da PUC-SP, o conceito de intuição, que nasceu na filosofia, consiste em atingir a verdade não pela razão, mas pela apreensão da realidade por meio dos sentidos. "Por isso é importante levar em conta essa impressão do ambiente de trabalho", diz.

Segundo ele, a idéia do 'insight' ou intuição é a de que uma pessoa tem uma dúvida ou problema aparentemente sem solução, e de um momento para outro consegue chegar a uma reposta, porém sem qualquer explicação lógica para isso.

"Tudo acontece porque absorvemos conhecimentos tanto de forma consciente, como não-consciente", diz. "Um dado qualquer da realidade que foi percebido mas não passou pela consciência pode, de repente, emergir ou influenciar o nível racional, reconfigurando assim as informações conscientes, e levando o indivíduo a encontrar uma solução", explica.

Entretanto, o psicoterapeuta alerta que decisões importantes não devem ser tomadas apenas baseando-se na intuição. "Ela é um 'pré-conceito', algo que ainda não foi criticado pela consciência, por isso também pode se enganar". De acordo com ele, o ideal é valorizar a intuição, porém jamais agir antes de analisá-la racionalmente.

"A intuição nos dá pistas sobre o que perguntar e pesquisar mais a fundo", explica. "Quando se tem a impressão de que algo não está certo numa empresa, o ideal é acreditar na sensação e buscar mais dados para avaliar melhor a proposta de emprego", aconselha.

Habilidade intuitiva é diferencial na carreira
Seguir a intuição não é importante apenas na hora de avaliar uma proposta de trabalho. De acordo com Luiz Edmundo Prestes Rosa, diretor corporativo da Accor Brasil, o profissional moderno, principalmente na área de serviços, é aquele que consegue trabalhar bem tanto com a lógica como com a intuição.

"Hoje, praticamente todas as empresas oferecem qualidade; o que realmente está fazendo a diferença é superar as expectativas do cliente", diz. "Para isso é necessário utilizar bastante intuição e sensibilidade para se colocar no lugar dele e produzir algo diferente, que os concorrentes não estão oferecendo", explica.

Segundo Prestes Rosa, trabalhar a capacidade intuitiva dá ainda ao profissional a habilidade de perceber o todo de forma mais eficaz. Ou seja, para ele, confiar na intuição permite tanto uma maior compreensão geral de um processo, como a solução de problemas complexos a partir de dados escassos. "É chegar onde a razão não chega sozinha", afirma. "E essa é uma grande vantagem competitiva no mercado hoje", diz.

De acordo com ele, essa é uma característica tão importante que muitas empresas utilizam técnicas de mapeamento cerebral para contratar novos funcionários. "São questionários que o candidato têm que responder no processo de seleção. Eles identificam que partes do cérebro são mais utilizadas", afirma.

A habilidade intuitiva de um funcionário, segundo a consultora de recursos humanos Marisa Moreira Branco, também é testada na entrevista de emprego. "Avaliamos as posições do candidato, e tentamos considerar não só suas características técnicas, mas também suas habilidades sensitivas", explica.

Outra forma de avaliar esse tipo de característica no profissional, segundo Prestes Rosa, é observar o seu currículo. Atividades como trabalho voluntário, vivência internacional ou prática de esportes, na sua opinião, indicam que o executivo trabalha seus lados intuitivo e sensitivo e sua sociabilidade. "Na Accor, por exemplo, implementamos processos de treinamento para desenvolver esses aspectos do profissional. Neles, propomos até atividades como ginástica, massagem e expressão corporal, que ajudam a desenvolver as caraterísticas intuitivas do funcionário", conclui.

(Miguel Vieliczko)
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br

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