São Tantas Emoções Desperdiçadas

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010



Empresas ignoram complexidade humana e lideram equipes sem resultados

Problemas pessoais devem ficar da porta pra fora. Essa sempre foi a ilusão das empresas sobre as emoções de seus funcionários. Acreditar que uma barreira física possa impedir alguém de sofrer ou de ser feliz é levar muito a sério o ditado popular “o que os olhos não vêm o coração não sente”. Pura ingenuidade, mas é o que acontece. Os gestores acreditam que terão o máximo desempenho de sua equipe sem navegar pelo desconhecido mundo das emoções.
Em seu novo livro, o psicólogo Milton de Oliveira volta ao tema que o tornou um dos mais provocativos consultores de empresas desde a década de 1970. Autor de cinco livros sobre gestão de pessoas nas organizações, Oliveira não teve qualquer dúvida sobre manter as emoções como fio condutor de seu trabalho depois que conheceu as pesquisas do prêmio Nobel de Química de 1977 o russo Ilya Prigogyne, conhecido por defender a Teoria do Caos, na qual não há certezas sobre os acontecimentos, apenas hipóteses. O cientista não aceitava a teoria mecanicista que defende que a organização é formada por engrenagens e que a sua máxima eficiência dependerá da avaliação detalhada do funcionamento delas. O interesse pela teoria anti-mecanicista do cientista russo fez Milton de Oliveira marcar, no final da década de 80, um encontro na universidade belga em que ele lecionava. Diante do grande estudioso, o psicólogo brasileiro logo sacou a pergunta que o deixaria sem fala: o amor é uma reação termodinâmica (estudo do movimento da energia e como ela cria movimento)? A provocação inédita ia ao encontro do pensamento de Prigogyne e rendeu uma boa conversa. Quando embarcava de volta, Oliveira teve a certeza de que era preciso mudar o pensamento da gestão de pessoas no Brasil.
A tarefa de falar de emoções no ambiente corporativo é difícil, mas quando o Milton me convidou para ajudá-lo a formatar o novo livro, não tive dúvida que o projeto era apaixonante. Já com dezenas de páginas escritas, nas quais ele tentou resumir seus principais pensamentos sobre o assunto, iniciamos nossa parceria. Foram muitas horas de entrevistas e debates acalorados que resultaram no livro “Emoção, poder e conflito nas organizações – líderes estão despreparados para lidar com as pessoas”. Minha experiência como jornalista de negócios, permitiu que encontrássemos uma boa forma para dizer o que as empresas precisam saber para gerir suas equipes com mais eficiência. A obra nascida sob os fundamentos da ciência contemporânea acabou se tornando uma agradável leitura para gestores e empresários, cada vez mais sem tempo para refletir sobre as práticas gerenciais.
O estudo da mente humana, um dos ramos mais recentes da ciência, alcançou resultados impressionantes nas últimas três décadas. No entanto, o ensino da Psicologia continua batendo nas mesmas teclas de quando não tínhamos os avanços da nanotecnologia. Estudos atuais e detalhados da mente humana indicam que o nosso cérebro é muito mais complexo do que se pensava e que neurônios se recuperam, sim. E ainda que uma parte do cérebro seja afetada por qualquer trauma, as células realizam uma nova combinação de talentos deslocando funções para outras áreas a fim de manter o equilíbrio.
A idéia trazida pela Teoria do Caos, que indica que acontecimentos complexos como o comportamento humano sofrem muito mais influências do que os cientistas mecanicistas poderiam admitir, deve ser o ponto principal de qualquer modelo de gestão de pessoas. A educação formal que recebemos - em casa, na escola e na empresa - causa menor impacto que nossas vivências e, por isso, somos seres únicos e emocionalmente ricos.
Tentar gerir pessoas usando ferramentas mecanicistas é reduzir as possibilidades de inovação e personalização que são naturais em nós. A estrutura hierárquica adotada pelas empresas, oriunda do militarismo, engessa o desenvolvimento de uma equipe e a potencialidade de seus resultados. A medicina, por sua vez, herdou da Igreja a influência que estabeleceu a divisão entre corpo e espírito, quando, nada acontece na mente que não passe pelo corpo – a casa das emoções.
Estudar as emoções é um desafio, pois não dá para rastrear o impacto físico que elas provocam. Cada emoção vivida gera milhares de reações infinitamente microscópicas (nano reações) que se espalham pelo nosso corpo provocando mudanças e impactos que jamais saberemos. Lembrando a conversa de Milton de Oliveira com o químico russo ganhador do prêmio Nobel, as emoções são reações termodinâmicas que mudam nossos sentimentos, pensamentos e também nosso corpo. Para o psicólogo Milton de Oliveira, o Câncer, por exemplo, é resultado de reações termodinâmicas geradas por emoções como a raiva e o remorso. É por isso que os gestores deveriam se preocupar em criar um ambiente organizacional em que a alegria seja a emoção mais forte e constante.
As empresas precisam estar atentas às inevitáveis mudanças que seus funcionários vão sofrer ao longo da vida e saber explorá-las, deslocando esse funcionário de setor ou dando a ele novas funções. Fazer isso será uma decisão inteligente. É pela mesma razão que planejamentos estratégicos podem não resultar em nada, porque eles dependem das pessoas para serem realizados. E se o gestor não souber se comunicar, a idéia maravilhosa poderá naufragar.
Acreditar que a emoção atrapalha o raciocínio humano é um atraso em relação ao que a ciência vem nos mostrando, pois a lógica depende da emoção para ser expressa, enquanto a emoção dispensa qualquer ajuda. Convido você a ler o livro que já está nas livrarias de todo o país e na internet (www.comartevirtual.com.br). Compartilhe conosco a sua experiência sobre gestão de pessoas e vamos nos emocionar juntos com os resultados que esta obra poderá provocar no seu modo de ver a empresa e suas equipes.

Inácia Soares, jornalista e apresentadora do programa Mesa de Negócios, o mais antigo da TV mineira, exibido na TV Horizonte, professora do MBA Pitágoras, palestrante e coautora dos livros “Emoção, conflito e poder nas organizações” (Editora Com Arte/2009) e “Do Porteiro ao presidente” (Editora Com Arte/2009).
inaciasoares@mesadenegocios.com.br

Fonte: http://www.portaldomarketing.com.br

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