Toda situação tem vários lados e toda visão está sujeita ao olhar que a vê. Nossa inteligência compreende isso muito bem. O caso é que podemos estar viciados numa determinada posição, vendo tudo pelo mesmo ângulo, sem nos darmos conta disso.

A partir desse nosso modo de ver e de interpretar a vida, construímos idéias de realidade que talvez não sejam tão reais assim. E nesse mundinho ilusório nos limitamos, lutando para que não desabem os nossos castelos de areia na falsa impressão de segurança que costumamos alimentar diante até mesmo do “mal” que já é conhecido.

Êta medo do novo! Sofremos feitos condenados, mas não arredamos pé. Até que a vida, que não condena ninguém a nada, e que parece não ter nenhuma simpatia por atitudes de auto-condenação, resolve demonstrar que não está para esse tipo de brincadeira, e puxa o tapete onde, contentinhos, brincávamos de teatrinho…

Tragédia? Não, crescimento. Crescer, entre outras coisas, significa ampliar o campo de visão e conhecer novos pontos de vista. Significa, principalmente, reconhecer as próprias ilusões, para poder ultrapassá-las, subindo mais um degrau nesse caminho pelo qual se aprende a ser totalmente feliz.

-Esse papo de reconhecer ilusões, de novo!

-Esse papo de ter de mudar por dentro, de balançar as estruturas, pra ver se são sólidas mesmo;

-Esse papo de mudar a ordem das coisas… bagunçar tudo… ou arrumar tudo… É engraçado, né?

Em certos aspectos somos fanáticos pela organização, pelo “como deve ser”, e incluímos até o comportamento das outras pessoas nas nossas regrinhas; em outros, preservamos com unhas e dentes a nossa “desordem liberal”, como aqueles que odeiam quando alguém mexe na sua mesa de trabalho, por exemplo, na tentativa de limpá-la ou organizá-la, alegando que, na bagunça ali estabelecida, conseguem encontrar tudo prontamente, ao precisarem… -Mas isso não é manter uma ordem dentro da desordem?

É verdade que podemos viver do jeito que bem entendermos. Mas é verdade, também, que nos cansamos de viver de jeitos insatisfatórios e infelizes.

A vida vai ficando chata, sem brilho, sem gosto, sem graça.

Vamos ficando desanimados, o prazer vai diminuindo, e tudo vai se tornando muito pesado e complicado… Isso quando nossas ilusões não se desfazem de um momento para o outro, feito bolhas de sabão, e nos estatelamos em tombos dolorosos e inevitáveis.


Sentimos que precisamos mudar em alguma coisa, mas nem sempre nos decidimos a isso de imediato. Por mais que fujamos das mudanças como o diabo foge da cruz, sempre acaba surgindo um belo dia em que a conclusão chega com aquele tom de xeque-mate: é mudar ou mudar. Mas agora ainda podemos optar – e mudar – de livre e espontânea vontade…

Você deve estar perguntando: -Vai doer?

-então vamos lembrar das crianças e de quando éramos criancinhas.

Quem já lidou com crianças certamente ouviu por muitas vezes essa pergunta. É uma maneira de elas expressarem que estão com medo diante de uma situação nova, da qual sentiram que não poderão escapar, mesmo chorando ou esperneando – uma injeção, um curativo, um tratamento dentário ou um simples corte de cabelo, que seja.

Apesar de saberem que algumas dessas coisas doem, muitos adultos preferem mentir, na tentativa de enganá-las – e assim resolvem a primeira fase dessa questão, criando, contudo, uma série de problemas posteriores – porque aquilo que dói, dói… não adianta dizer que não. A própria criança vai constatar…

-Não é mais honesto e mais fácil dizer que vai doer um pouco, sim, mas vai passar? E que ela pode agüentar, e ficará melhor, depois que passar? E, ainda, que estaremos por perto, fazendo tudo aquilo que pudermos para que ela fique bem?

-Porém, olharmos para o que precisamos melhor, o que nos incomoda e principalmente as transformações há uma grande necessidade de auto-afirmação, que muitas vezes se traduz por rebeldia e por atitudes desafiadoras; há uma procura pela própria identidade, pelo jeito próprio de ser; há o desejo de ser aceito e o pavor de ser rejeitado; há a arrogância querendo encobrir a fragilidade; há o despontar da consciência de que existe um mundo novo a conquistar e um mundo conhecido a deixar para trás; há uma grande aprendizagem a ser feita por ensaio e erro, até que se chegue à maturidade (o que não significa que deixaremos de errar);não é assim? Se lembrarmos dos nossos adolescentes compreenderemos melhor as nossas atitudes.

Pensando em nossas fases: (aos trinta, aos quarenta, aos sessenta, aos oitenta, não importa qual seja a nossa idade cronológica).

Pensemos em nós como adolescentes agora com a responsabilidade de nos educarmos e de nos orientarmos nessa transição. Não é interessante? Muitas das nossas dúvidas, muitos dos nós que nos atormentam, não ficam mais “solucionáveis”, por esse ângulo?

Vamos ampliar um pouco este exercício, pensando nos nossos parceiros – namorados, namoradas, maridos, esposas, parentes, amigos, sócios, clientes, vizinhos, “autoridades”, líderes – todo mundo no mesmo barco, em plena adolescência!

-Muitas coisas não ficam mais claras, mais compreensíveis? E pensar que tantas vezes achamos mais seguro confiar nos outros, do que acreditar naquilo que sentimos…

Se até aqui estamos de acordo, olhemos para nós como seres que vivem o tempo da adolescência, com todas as inquietações e com todas as belezas próprias dessa fase – lembrando do quanto precisamos da nossa firmeza, da nossa integridade e da nossa ternura.

Lembremos, também, que não adianta mentirmos para nós, dizendo que não doem as coisas que doem.

-Entendendo melhor:

Enxergar as próprias ilusões pode doer, mas não será a verdade que estará causando a dor.

A causa da dor é a desilusão, que só pode acontecer se estamos iludidos, Certo?

Deixando de dar força para as nossas ilusões, estaremos diminuindo em muito os motivos dos nossos sofrimentos.

Se estamos dispostos a mudar alguma coisa, podemos começar a pensar nas pessoas de um jeito diferente, mudando a nossa atitude com relação a elas – apreciando o seu modo de ser, reconhecendo suas qualidades, seus pontos positivos, e também suas limitações – sem fantasiar a respeito delas, sem fazer do relacionamento um provedor de necessidades pessoais, mas compartilhando as experiências que se apresentem com a maior naturalidade possível, sendo como somos e aceitando que elas sejam como são.

Assim, todos estaremos mais livres, mais desarmados, para desfrutar de todo o bem e de todo o prazer que esse contato possa proporcionar realmente, a cada momento, sem que se perca tanto tempo com os desapontamentos e desilusões.

-Assuma para sí mesmo:

“Vai doer um pouco, sim, mas vai passar. Sei que me sentirei melhor, terei crescido um tanto a mais, depois que passar e garanto que a partir daí vou me sentir muito feliz.


Sandra Helen Trovo
Fonte: http://www.umtoquedemotivacao.com

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