Atualmente, um assunto aparentemente novo tem circulado nos meios organizacionais. Trata-se do assédio moral, já discutido em sua vertente sexual mas só recentemente dimensionado nessa nova direção.
Por assédio, entende-se o ato de importunar um indivíduo, molestando-o e hostilizando-o com insistência para atingir objetivos próprios. Falamos, aqui, de uma prática antiga e perversa do poder que atinge a auto-estima daqueles que são submetidos a ela, reduzindo seu potencial criativo. É o mau uso da autoridade, ou melhor, o abuso do autoritarismo que, agora, ganha um nome: assédio moral.

A sociedade despertou para o assunto com a publicação do livro "Assédio Moral - A violência perversa no cotidiano" - Ed. Bertrand Brasil, da psiquiatra Marie France Hirigoyen.
São inúmeros os danos causados ao estado físico-emocional daqueles que sofrem o assédio: alterações do sono, distúrbios alimentares. diminuição da libido, aumento da pressão arterial, desânimo, insegurança, entre outros, podendo acarretar em quadros como o pânico e a depressão.
Aquele que comete o assédio parece encontrar em sua vítima uma via de ascenção e afirmação de seu poder e superioridade. É o exemplo de chefes que gritam e humilham seus subordinados, professores que ridicularizam e constrangem seus alunos, pais que desrespeitam e agridem seus filhos com palavras ou gestos, cônjuges que menosprezam seus companheiros, etc...

Analisar os motivos que fazem de um indivíduo "agressor" ou "vítima", torna-se necessário para um melhor entendimento dessa questão.
Detendo-nos em uma simples reflexão, poderemos observar que se o agressor necessita humilhar o outro para afirmar-se enquanto poder, ele mesmo já está revelando o quanto teme o poder de sua vítima e o quanto desconfia da sua competência. Des-confiar significa sem confiança que, por sua vez, implica em não contar com o aval do outro - com-fiança. Esse aval é o que legitima nossa credibilidade e competência. Se não acreditamos em nossa capacidade, aptidão e idoneidade para resolver os assuntos que nos competem, então, a ação tem que ser no grito, na opressão e humilhação do outro, porque na desvalorização do outro pode-se encobrir a nossa fragilidade e indigência.

Autoridade e autoritarismo não são a mesma coisa.
O autoritário age com vistas na dominação do outro, aprisionando-o para que ele não constitua ameaça à sua frágil confiança. A autoridade, por sua vez, age com poder legítimo, ou seja, consciente de suas competências, conhecimentos, possibilidades e limitações, propiciando ao outro o espaço de liberdade onde as coisas podem aparecer, serem criadas, desenvolvidas e transformadas.
Não podemos negar, entretanto, a existência de personalidades mórbidas, sustentadas por uma racionalidade destrutiva, onde o cuidar de si e do outro é amoral e perverso. Mas, dada a complexidade do assunto, fiquemos na abordagem filosófica do tema e suas provocações que muito contribuem para ampliar nosso horizonte existencial.
Muitos de nós temos uma conduta acomodada, acolhida pelo paternalismo no qual fomos educados e temos dificuldade de encarar e acreditar naquilo que vemos e sentimos mais intimamente. Não fomos encorajados a questionar e sim a aceitar o que nos é imposto através da cultura e dos valôres sociais.
Atualmente, a ameaça de desemprêgo, a crise econômica e a super valorização do ter sobre o ser tem gerado muitos agressores e muitas vítimas. Mas, como se costuma dizer: "Para todo sádico, sempre há um masoquista".

As supostas "vítimas" de assédio parecem optar pela cômoda posição de não ser responsável por seu destino; não tomam o gesto como uma ação que é sua; não percebem que optar por ser "vítima", também, confere-lhes culpa e responsabilidade. Em outras palavras, é a vítima que alimenta o agressor.
Avaliando mais detida e realisticamente o que já foi dito, compreenderemos que não existem nem "vítimas" nem "agressores", ou melhor, nem culpados, nem inocentes. Todos nós somos capazes e responsáveis por como somos e vivemos. Citando Guimarães Rosa: "Tudo que acontece, carece e se merece".

Faz-se imprescindível, no entanto, um sério investimento no âmbito da Educação, onde o projeto maior seja o desenvolvimento do homem em sua credibilidade, senso-crítico, ética e respeito pelas idiossincrasias humanas.
A tarefa do homem é ser e fazer história. Poder ser é a liberdade fundamental para que não nos encerremos em cada ato, que não nos esgotemos em cada palavra. Seremos sempre responsáveis pelo nosso ser e vir a ser. A nossa construção, mais ninguém a fará. Nossa escolha sempre será solitariamente nossa.
Cabe-nos, então, cuidar de nós e do mundo para que nossa existência seja uma construção significativa, uma história que fará diferença e dará legitimidade a todo o nosso fazer.

Que possamos ser, simplesmente, homens que tem a vida como tarefa, infinitas possibilidades e um desejo enorme de acertar.
Por Lenize Freitas Lopes.
Fonte: http://www.precisa-se.com.br/

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